Sé de Lisboa
Visitar a Sé de Lisboa é também estar em comunhão com os santos que fazem parte da história deste templo, da Igreja Diocesana e Universal. Desde logo, Santa Maria Maior, orago desta Catedral e da Paróquia, e particularmente Santo António, padroeiro da cidade de Lisboa, e São Vicente, padroeiro principal do Patriarcado.
Foi a dois passos da Sé que Santo António nasceu, entre 1191 e 1195, e viveu até aos seus 15 anos, com os pais e a irmã. Não admira, por isso, que a ligação do santo mais popular de Lisboa à sua Catedral seja tão forte. Aqui recebeu o batismo, frequentou os primeiros estudos e integrou o coro.
Ao visitar a Sé, é possível apreciar o magnífico interior do batistério que acolheu o santo português mais conhecido em todo o mundo. Forrado com painéis de azulejos do século XVIII, aqui foram batizadas inúmeras personalidades ilustres da história de Portugal.
Outro dos sinais da passagem de Santo António pela Sé de Lisboa pode ser encontrado na parede da escadaria que conduz ao coro alto: a famosa cruz de Santo António. Diz a lenda que, quando era criança e estudava na escola desta Catedral, Santo António foi tentado pelo demónio neste local e o repeliu desenhando o sinal da cruz que aqui ficou gravado. Este terá sido o primeiro dos muitos milagres que Deus realizou por intermédio do santo nascido em Lisboa em 1190.
Mas há também lendas que indiciam que Santo António era um excelente conciliador de casais, tendo ficado popularmente conhecido como um santo casamenteiro. Esta fama esteve na origem da criação dos Casamentos de Santo António, uma iniciativa que aconteceu pela primeira vez a 12 de junho de 1958 com o objetivo de possibilitar o matrimónio a casais com dificuldades financeiras, e que se transformou numa tradição anual, fazendo já parte da identidade cultural da cidade.
Após o 25 de Abril de 1974, o evento, que é promovido pela Câmara Municipal de Lisboa, esteve 23 anos sem se realizar, tendo sido retomado em 1997. As cerimónias civis decorrem nos Paços do Concelho e as religiosas na Sé de Lisboa.
Menos popular, mas nem por isso menos importante que Santo António, é São Vicente, também ele com uma ligação muito especial à Sé e à Diocese de Lisboa. Reza a lenda que, no século IV, o diácono Vicente de Saragoça foi torturado até à morte pelo imperador Diocleciano por se recusar a oferecer sacrifícios aos deuses pagãos. Com a invasão muçulmana, os seus restos mortais foram colocados num barco à deriva no mar, que viria a dar à costa no Cabo de Sagres.
Já no século XII, o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, prometeu recuperar as ossadas do mártir São Vicente caso conquistasse Lisboa. Fê-lo em 1173 e diz-se que dois corvos protegeram a nau durante a viagem de regresso a Lisboa. São Vicente tornou-se o padroeiro de Lisboa, enquanto os corvos e a nau passaram a ser os símbolos da capital.
De acordo com um texto escrito no final do século XII pelo Mestre Estêvão, chantre da Catedral de Lisboa, um anónimo terá de facto alertado, em 1173, para o facto de o corpo de São Vicente se encontrar no Cabo de São Vicente, em Sagres. As relíquias do santo estariam na chamada “igreja dos corvos”, mas segundo o clérigo a iniciativa de ir buscá-las partiu de alguns habitantes da cidade que foram por mar até Sagres depois de terem obtido informações sobre o túmulo de São Vicente junto de moçárabes algarvios.
À chegada a Lisboa, três grupos rivais terão disputado as relíquias de São Vicente: os moçárabes queriam levá-las para a Igreja de Santa Justa, como forma de se apropriarem de um culto importante; os regrantes de São Vicente queriam-nas no Mosteiro de São Vicente; e os cónegos da Sé propuseram como alternativa a Catedral, onde efetivamente se encontram desde 16 de setembro de 1173. O santo tornou-se assim padroeiro da Diocese de Lisboa, e a sua memória é evocada pela Igreja a 22 de janeiro, dia da sua morte (que terá acontecido no ano 304).
Os cofres-relicários contendo as relíquias do mártir São Vicente estão entre os mais relevantes objetos em exposição no Tesouro da Sé do ponto de vista simbólico e religioso. As relíquias continuam a ser veneradas no dia da sua solenidade litúrgica, e na eucaristia que se celebra anualmente na Sé são ainda utilizados o cálice e patena de São Vicente, também expostos no Tesouro.